"O rap é negro, nós pedimos licença a eles", diz Haikaiss, grupo formado por brancos

  • Por Jovem Pan
  • 29/05/2018 14h08
Jovem Pan Quarteto é formado por Spinardi, SPVic, Pedro Qualy e DJ Sleep

Em 2017, quando foi uma das atrações do line-up do Lollapalooza Brasil, o grupo Haikass se surpreendeu com algumas críticas que recebeu de parte do público. Na ocasião, eles foram “acusados” por algumas pessoas de “roubarem” o espaços dos negros no rap apenas por serem brancos. Em entrevista ao Pânico nesta terça-feira (29), os integrantes comentaram o caso.

“Tem gente que acha que a gente não deveria estar onde estamos. Mas esse assunto é delicado. Eu gostaria de falar que o privilégio branco existe. Não só no rap como na vida normal. Existe, sim. O papo de racismo inverso não existe. Mas vou dar um exemplo. É comum ir em um restaurante japonês no Brasil, não é? E só porque fica aqui a culinária deixa de ser japonesa? Não. O rap continua sendo negro. Nós respeitamos isso. Hoje enxergamos muitos brancos no rap que não têm consciência. Nós temos, passamos isso, o rap é negro, foi levantado e construído por eles. O Haikass pediu licença para andar. Corremos juntos lutando pelo movimento”, disse Spinardi.

O grupo foi criado em 2006 por ele e SPVic com gravações amadoras feitas em estúdios improvisados em suas casas. Depois, convidaram Pedro Qualy e o DJ Sleep para compôr o quarteto. O sucesso veio aos poucos com os vídeos compartilhados na internet. O mais popular, o clipe da música Rap Lord, parceria com Jonas Bento, já ultrapassa 105 milhões de visualizações.

“A gente começou independente. Eu me formei em técnica e produção fonográfica então desde o começo sabia fazer fonogramas, venda de track, produção. Foi bom porque sempre achamos as propostas das gravadora despropocionais. Nunca foram vantajosas para nós. Conseguimos tudo sozinhos por mérito nosso. A inspiração foi o Emicida. Ele é o Jay-Z brasileiro. Tem o maior selo independente, alcança coisas que ninguém conseguiu”, explicou SPVic.

Só que hoje o cenário é outro. “Acho que eles entenderam que, para fechar negócio, tem que ter uma negociação boa para todos os lados”, completou Spinardi.

Durante a entrevista, os músicos contaram ainda como Whindersson Nunes ajudou no sucesso da banda, explicaram detalhes da técnica do dificílimo speed flow (que tem até tutorial para aprender a cantar) e revelaram quais são os próximos planos da carreira. Todos os vídeos estão no canal do Pânico no YouTube.

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